Sábado passado, motivado pela enorme polêmica sobre o assunto, reuni a família e fomos fazer fila diante do cinema para assistir ao filme "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson.
À parte toda a polêmica sobre o filme ser ou não anti-semita - o que sinceramente não achei -, o que particularmente me incomodou (e à minha mulher e filhos) foi o excesso de violência a que o diretor expõe o espectador ao contar sua versão do que teriam sido as últimas doze horas de Jesus Cristo neste mundo.
Mesmo considerando o fato de que ninguém sofreu mais que Jesus em Sua via crucis rumo ao Gólgota, que sobre Ele estava o peso do pecado de toda a humanidade, de que Ele teria sido capaz de suportar o que suportou porque também trazia em Si a centelha da divindade, o banho de sangue a que Gibson nos submete, além de grotesco, chega a ser quase um insulto. Talvez isso explique o fato de, poucas semanas após seu lançamento, duas pessoas já terem morrido nas salas de exibição: uma senhora norte-americana e um pastor brasileiro, ambos acometidos de infarto fulminante. Isso é assustador. Jamais, em minha longa vida, ouvi falar que algo parecido tivesse acontecido - o fato de alguém morrer em virtude do impacto causado por algum filme.
Muita gente está dando um desconto ao diretor: "Ora, esse é o estilão do Gibson! Você não se lembra de 'O Coração Valente', com todas aquelas cenas de batalhas e cabeças sendo decepadas?". Está certo, esse pode ser o estilo do artista por trás da câmera, mas ainda assim há limites a serem obedecidos, pelo menos por respeito ao espectador.
Especialistas em semiótica e emprego de signos e símbolos na comunicação ensinam que a "sugestão" da violência por meio de efeitos cênicos, de recursos de edição de imagens e sons podem ser muito mais poderosos em seus efeitos do que a exposição cruenta e explícita da mesma, de braços decepados, de entranhas expostas, de corpos sem cabeças e incessantes jorros de sangue.
Por isso, após meia hora de filme, "A Paixão" anestesia. Faz com que em algum lugar de nosso cérebro deixemos de crer na veracidade do que está sendo mostrado, por mais que saibamos que Cristo sofreu como ninguém nesta vida. É subestimar nossa inteligência achar que podemos acreditar naquilo que acontece com o Cristo de Gibson, naquele nível de suplício; que possamos crer que alguém que foi torturado daquele modo ainda tivesse forças para sustentar uma cruz daquele tamanho, quanto mais, para carregá-la ladeira acima, num trajeto longo e sob incessantes açoites e outras torturas!
Além disto, há um tom kitsch permeando a obra de Gibson. O corvo comendo os olhos do mau ladrão na cruz, o braço de Cristo esticado até quebrar, para que chegasse ao ponto em que os soldados romanos consideravam ideal para pregá-lo, a lágrima caindo do céu no momento em que Cristo expira...o filme não precisava disto.
Ora, se Gibson não tivesse exagerado desse modo, se não tivesse "carregado a mão" e feito um filme tão expressionista sobre a Paixão, certamente, este trabalho tão importante sobre Cristo seria muito mais eficiente em seu objetivo de divulgar o mais sublime dos gestos que alguém já teve por seu semelhante.
Apesar de possível exagero cometido pelo diretor Mel Gibson, o filme é extremamente importante, pois traz o assunto do sacrifício de Jesus novamente à memória das pessoas, fazendo com que as mesmas reflitam mais profundamente sobre o que verdadeiramente significou a morte vicária de Jesus por nós.
Discordo do autor do artigo quando este diz que Jesus tenha suportado tamanho sofrimento por ter sua "centelha" divina, já que o mesmo abdicou de sua condição divina e enfrentou tudo, em nosso lugar, por ser 100% homem!
Discordo totalmente do autor! Todas as vezes que queremos mostrar um Jesus super-poderoso durante a encarnação, estamos indo contra a Soteriologia. Cristo era homem, viveu como homem, sofreu e morreu como homem. O autor diz que alguém que sofreu daquele jeito,não suportaria uma cruz. Isto é ignorância acerca de como ocorria o processo romano de crucificação.
Gibson exagerou sim!!