Conheça um pouco mais da vida e pensamento do Pr. Paulo Solonca. Veja, a seguir, entrevista que ele nos concedeu recentemente por e-mail.
Pastor, o senhor poderia, por favor, iniciar esta entrevista nos dando um breve histórico de sua vida, de sua formação familiar, intelectual, espiritual e, também, dizer como chegou ao pastorado? Já fui comerciante e industrial, mas meu sonho era ser engenheiro e me especializar em eletrônica. Entretanto a meio caminho, Deus me chamou para o ministério.
Até aqui, são quantos anos de pastorado e quantas igrejas o senhor já pastoreou? Tenho 30 anos de ordenação. Fui pastor da I. B. Pedras Vivas, em São Paulo (5 anos), da P. I. B de Porto Alegre (7 anos) e da P. I. B. Florianópolis (18 anos).
Atualmente, além de suas responsabilidades à frente da Primeira Igreja Batista de Florianópolis, que outras atividades o senhor desempenha? Dou aulas no I. B. E de Florianópolis (Instituto Batista de Educação), sou docente do Instituto Haggai, faço parte da diretoria da Associação de Discipuladores Cristãos, tenho sido preletor de diversos eventos ligados a casais. Também tenho atuado no treinamento de lideranças e na divulgação do discipulado como ferramenta de expansão e manutenção da Igreja de Jesus. Tenho apoiado o MAPI (Ministério de Apoio a Pastores e Igrejas, dirigido pelo Pr. David Kornfield, da Sepal), no que se refere ao pastoreio de pastores, sempre que solicitado.
Quais as lições mais importantes que o senhor aprendeu ao longo desses 30 anos? Sem dúvida alguma, as lições mais importantes foram no campo do discipulado. Aprendi que é preciso repartir a própria vida com as pessoas que estou discipulando. Informações bíblicas e teológicas, desacompanhadas de exemplo de vida tornam-se estéreis. Jesus disse: “Examinais as Escrituras porque cuidais ter nelas a vida eterna... contudo, não quereis vir a mim para terdes vida." Creio que esta é a revolução que aconteceu em minha vida. Descobri que eu sabia muito da Bíblia, mas que não tinha vida. E ela não acontece por acaso...É transferida. Como um parafuso que fica por algumas horas em contato com um imã e se “transforma” também num imã, do mesmo modo, precisamos de contato, do convívio com pessoas que possuem a vida de Cristo em seu interior.
Nesse período (pastorado) o senhor diria que têm tido mais motivos para alegria ou para tristezas, decepções? Parece um paradoxo, mas a Igreja tem sido o lugar das maiores alegrias, assim como tem sido o das maiores decepções. Sem dúvida, as alegrias são bem maiores. As tristezas e as decepções acontecem durante a caminhada, mas elas, no final das contas , fazem parte da alegria. Não poderia medir melhor a intensidade da alegria, se não tivesse as tristezas como parâmetro. As tristezas, quase sempre, acontecem na esfera dos relacionamentos. Entretanto, o discipulado tem me ajudado a administrá-las de forma mais eficiente.
Pastor, numa enquete ainda em votação em nosso site, 90% das pessoas responderam que acreditam que a Igreja evangélica brasileira passa, hoje, por uma crise ética. O senhor é da mesma opinião? Qual sua visão da Igreja brasileira hoje? Se olharmos para a Igreja evangélica como sendo aquela que é composta de todos os cristãos, exceto os católicos, eu diria que a situação é caótica. Hoje, o membro de uma igreja evangélica sofre pressões e influências que não sofria há 20 anos. Na época ele tinha apenas a sua igreja do bairro, tinha apenas o seu pastor. Os programas evangélicos no rádio eram poucos, não havia quase nenhum programa evangélico na televisão. Hoje, o membro de uma igreja quase sempre visita e freqüenta outras igrejas. Ele liga o rádio e escuta uma dezena de programas evangélicos. Algumas igrejas já tem até rede de TV. Para complicar ainda mais, há a influência da Internet e da indústria de “eventos gospel”, que vão desde os congressos até a shows de grupos musicais. Com eles, chegam as tendências doutrinárias, que nem sempre são as da sua igreja local. Aí se explica a confusão. Creio que existem diversos ramos da Igreja que estão cavando sob o próprio barranco no qual estão edificando. Em outras palavras, muito em breve, o que edificaram, irá ruir e trazer destruição. Juntamente com isso virá a decepção e o escândalo.
Basta ser lúcido para entender que muitas denominações e igrejas estão crescendo na base da apelação e da manipulação. Sem contar as que estão tentando judaizar o Cristianismo. É incrível, mas existe um ramo evangélico que ensina que todo cristão deveria ir a Jerusalém fazer a via crucis a fim de receber bênçãos e a unção para sua vida. Tem igreja que com bandeira de Israel e candelabro no púlpito e fazendo seus membros do sexo masculino usarem "kipá" na cabeça. Outras igrejas manipulam seus adeptos, ensinando que algumas orações só serão ouvidas se forem levadas a Israel para serem queimadas numa "fogueira santa". Um dia destes eu vi, na televisão, uma igreja dessas distribuindo aos participantes do culto o "sangue de Jesus" com a instrução de que este deveria ser aspergido nas janelas e portas das casas. Prometia, o bispo-apresentador, que, se alguém fosse buscar o tal "sangue de Jesus" e com ele aspergisse os batentes de sua casa, o anjo do Senhor não mais feriria os seus moradores. Não dá mais para aceitar manipulações como as tais "sessões de descarrego", onde se distribuí um líquido composto de azeite de oliva, sal grosso, terra, arruda e outras essências. Um banho com aquela poção milagrosa, limparia a sua vida da influência dos demônios, segundo os líderes de tal igreja. Acho que faltaria espaço aqui para apontar a indústria das chamadas "campanhas", mas para destacarmos só algumas lembramo-nos do: "Corredor dos 70 Pastores", "Culto dos 318", e assim por diante. As aberrações chegaram ao cúmulo de cultos serem realizados onde antigos “pais de santo” dão consultas, com pastores vestidos de branco e distribuindo “banhos de descarrego” para espantar "encostos". Existe também um grupo que enfatiza a numerologia. Outros tantos que enfatizam demasiadamente as emoções. Lamentavelmente a Igreja de nossos dias é uma colcha de retalhos caracterizada pelos modismos nascidos nas mentes rasas de seus líderes.
O senhor acredita que o boom do crescimento da Igreja evangélica no Brasil, ainda está ocorrendo? Ou que este já dá sinais de perda de força e tende a uma estagnação? Creio que o "boom de crescimento" ainda está ocorrendo e que ainda perdurará enquanto as novidades existirem. Na verdade, crescimentos rápidos ocorridos a partir de ondas eclesiológicas duram pouco tempo. Logo se esvanecem, deixando atrás de si uma multidão de pessoas frustradas. É bom lembrar que a igreja católica também está experimentando um avivamento. Os católicos estão voltando aos seus templos. E por que razão? Pela novidade. Que novidade? Ora, a novidade trazida pelos padres Marcelo, Jorjão, Zé Maria. Basta ser um pouco observador para perceber que o padre Marcelo, nada fez senão copiar o estilo "gospel" e adaptá-lo à sua liturgia. Uma novidade - as igrejas lotaram! E é exatamente isto o que está ocorrendo ainda na igreja evangélica brasileira. Entretanto, quando a novidade perde o seu encanto as pessoas passam a exigir outras. Esta mania tem que acabar. A água, não é nenhuma novidade. É uma realidade milenar. Contudo, ela nos é indispensável. O fogo, idem. Assim, é preciso resgatar os fundamentos "irremovíveis" da fé cristã. As pessoas que estão dentro das igrejas, já começam a ficar confusas com tantas mudanças. Pastores correm de um lado para outro. Freqüentam todos os seminários e congressos possíveis e depois querem que suas igrejas mudem suas estratégias, sem antes dar tempo para a consolidação das estratégias antigas.
Pr. Paulo, seus seminários durante o 31° Encontro Sepal (ocorrido entre 3 e 7 de maio, em Águas de Lindóia), causaram grande impacto nos cerca de 1.200 pastores e líderes que lá estiveram. Afinal, que recado de Deus o senhor trouxe à liderança da Igreja no Brasil? Na minha opinião a falta de integridade é uma das mais terríveis doenças a atacar a Igreja brasileira. Ela é responsável pela perda de autoridade que a Igreja deveria ter. As igrejas estão cheias de pastores e líderes que pregam acaloradamente contra o pecado que eles mesmos praticam! Templos estão sendo construídos à revelia das leis, sonegando INSS, na base de pagamento de propinas a fiscais. Igrejas compram sem nota para gastar menos. Igrejas se vendem a políticos em troca de verbas e favores. Há muitos líderes de igrejas que não registram funcionários em suas firmas; que sonegam impostos, não declaram bens, no Imposto de Renda; que inventam despesas para aumentar seus salários; que subornam para ganhar licitações...
Existem muitos crentes que quando retornam de suas viagens ao Exterior mentem na Alfândega sobre os produtos que carregam. Há igrejas que compram produtos contrabandeados (principalmente de informática, instrumentos e equipamentos de som). Pior ainda, aqueles que dizem que são turistas e depois desaparecem na clandestinidade para trabalhar e fixar residência ilegal em outros países.
Diante de um quadro como este eu pergunto: “Como esperar que Deus abençoe uma Igreja que faz vistas grossas a tudo isto? A Bíblia diz: "Os olhos do Senhor passeiam sobre a terra e os seus olhos se detém sobre os justos". Os líderes de nossas igrejas tem que tomar uma decisão: Continuar a tomar atalhos destituídos de integridade na obtenção de recursos para a obra, ou permitir que o Senhor os conceda de forma lícita, justa e íntegra
O Senhor entende que o resgate da genuína integridade do cristão é a palavra do Senhor Jesus para a Igreja brasileira neste início de século 21? Por que? Eu não tenho dúvida de que precisamos resgatar, urgentemente, a integridade no seio de nossas igrejas. O Senhor Deus não tolera o ajuntamento solene de nossos cultos com a hipocrisia de nossa falta de integridade. Além do mais, os atalhos da falta de integridade, usurpam a bênção de atribuir a Deus todo o mérito, toda a glória. Isto afeta todo o clima do louvor e da adoração genuína.
Há algo mais que o senhor gostaria de acrescentar? Lamentavelmente, muitos daqueles que se dizem cristãos, ou que atestam pertencer à Igreja de Jesus, tendem limitar a chamada para seguir Jesus a um pequeno compartimento espiritual da vida. Há uma má compreensão dos princípios, diretrizes, valores e posturas, ensinados por Jesus. Na mente de muitos de nós existe um considerável acervo de informações sobre a pessoa de Jesus, Sua biografia, Seus ensinamentos... Contudo, tudo isto não é acompanhado de uma transformação que pode ser percebida pela presença da vida de Cristo nessas pessoas. (Paulo: “Já não sou eu quem vive , mas Cristo vive em mim”). Apesar de Jesus ter ensinado que Ele é o nosso Senhor, e que o senhorio d’Ele deveria ocupar o primeiro lugar em nossas vidas, isto raramente é praticado e, de fato, vivido.
Carreiras profissionais ocupam o primeiro lugar. Nosso estilo de vida em ascensão ocupa o primeiro lugar. Nossos estudos , nossa casa, nossa família, nosso namoro, nossa forma física, nossa beleza, nossa conta bancária, nossa preocupação com a crise, o esporte, a política... tudo isto está acima, no topo de nossas prioridades.
Creio que precisamos nos esforçar pelo surgimento de uma geração que queira seguir a Jesus de maneira mais séria; não somente na dimensão espiritual, mas em todos os aspectos da vida. Uma geração que esteja disposta a permitir que as Escrituras afetem todas as áreas de sua vida, bem como seus valores, sua maneira de administrar tempo e posses e deixe que a Palavra de Deus afete suas reações diante do carente, das injustiças e diante da violência.
Se pudéssemos viver isto, então a nossa generosidade sairia da cabeça, do coração e desceria para o bolso. Daríamos sem esperar devolução. Perdoaríamos de maneira incondicional; seríamos cheios de compaixão prática, não teórica; nos livraríamos dos modismos consumistas de nossa época e os substituiríamos por generosidade, hospitalidade, serviço ao próximo, minimizando a dor e o sofrimento dos que estão a nossa volta. Se pudéssemos viver isso, então estaríamos cumprindo com a nossa missão...
Na verdade eu não quero comentar a entrvista feita com o Pr. paulo. Eu estava na Sepal este ano e ouvi ele relatar a experiência que passou sua filha, acometida de esclerose múltipla. Temos em nossa igreja uma jovem de 24 anos (3 de casada) com a mesma doença e gostaria de saber do pr. paulo se ele poderia nos dar o e-mail de sua filha para que essa jovem possa escrever para conhecer um testemunho do que Deus fez. Sei que o Deus é o mesmo , o que cura e o que mantêm a doença mudando apenas seus planos indiiduais para cada filho amado mas acredito que esse contato fará bem a minha amiga. Se puderem encaminhar ao pr. paulo esse e-mail eu agradeço, No aguardo de resposta, despeço-me em Cristo Jesus, Cléo.
Estamos encaminhando seu e-mail ao Pr. Paulo agora mesmo!
Que o Senhor possa intervir na vida dessa jovem de sua igreja.
Sugerimos que a irmã coloque um pedido de oração em favor dela em nossa Central de Orações ou nos autorize a fazê-lo, informando-nos mais detalhes, como, por exemplo, o nome dela, a cidade onde vivem...