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Estatística e dimensionamento étnico.
Proposta para a sessão durante o fórum indígena
– 15 a 18 de setembro 2009
As pesquisas étnicas têm
caminhado de forma frutífera no movimento missionário evangélico
brasileiro. Rinaldo de Mattos, Isaac Souza, Osvaldo Álvares, Ted
Limpic, Enoque Faria, Paulo Bottrel, Richard Eger entre outros,
desenvolveram com competência esta pesquisa que é levada adiante
pelo Departamento para Assuntos Indígenas da AMTB.
Há, oficialmente, 227
etnias indígenas no Brasil espalhadas em quase todo o território
nacional, 593 terras indígenas demarcadas e uma população
aproximada de 700 mil indivíduos, entre indígenas aldeados e
urbanizados. Cerca de 60% da população indígena brasileira habita a
Amazônia Legal, composta pelos estados do Amazonas, Acre, Amapá,
Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e parte do
Maranhão. A estimativa é que haja 350 mil índios vivendo em
aldeamentos e aproximadamente o mesmo número em povoados, pequenas
cidades e capitais.
Nenhum dado é conclusivo
neste assunto visto a diversidade e dispersão étnica no Brasil. É
importante, porém, dimensionarmos tanto o desafio entre os
indígenas (em termos étnicos, lingüísticos, socioculturais e de
evangelização) bem como falarmos uma “mesma língua” em relação aos
números perante a Igreja Brasileira.
Os Não Alcançados
Ao redor do mundo o termo
“não alcançado” normalmente tem sido usado para grupos não
evangelizados, ou sem uma igreja local, ou ainda abaixo de uma
porcentagem mínima de cristãos (entre 1% a 5% dependendo da
região). Há no Brasil indígena cerca de 100 grupos sem presença
missionária, e um número maior de grupos sem uma igreja local.
Devemos pensar se consideraremos apenas os “sem presença
missionária” como “não alcançados” ou se seguiremos os conceitos
mais amplos sob o critério da evangelização e presença de uma
igreja local. Nosso objetivo como AMTB, Depto Indígena, deve ser
definir o critério que nos ajude a dimensionar o desafio e divulgar
de maneira uniforme tal realidade para a Igreja Brasileira.
Nossa proposta será seguir
o conceito geral de povo não alcançado igualando-o àqueles que,
possuindo ou não presença missionária, não possuem entre eles
crentes locais e/ou igreja indígena local. Julgo que este é um
passo importante para ajudarmos a despertar a Igreja Brasileira
para trabalhos que carecem de forte apoio e que não estão na lista
principal de atenção.
O Dimensionamento Étnico
A percepção do
dimensionamento étnico, porém, passa por diversos filtros que
nublam uma estatística mais segura. Um destes filtros é a
existência dos grupos ainda isolados, ou seja, etnias que habitam
em áreas remotas e que possuem pouco ou nenhum contato com os
demais segmentos indígenas ou não indígenas. Há 36 grupos listados
nesta categoria, mas eles podem chegar a 52. Há também várias
etnias tratadas de forma unitária, que na verdade são diversos
grupos com distintas identidades socioculturais e lingüísticas. Um
exemplo seriam os Yanomami, entre os quais há vários subgrupos que,
pela similaridade externa, são aglutinados simplesmente como
“Yanomami”, mas que compõem quatro etnias distintas. Por fim, há
também os grupos ressurgidos, que, pela miscigenação com
não-indígenas, perderam por algum tempo sua auto-identificação
étnica e, por diversos motivos, hoje voltaram a solicitar seu
reconhecimento como indígenas. São os grupos mais aculturados, por
assim dizer, e somam quase quarenta em todo o território nacional.
Alguns o fazem para terem acesso aos benefícios públicos do Estado;
outros, movidos por um processo de valorização do ser indígena.
O Instituto Antropos, em
parceria com o Departamento para Assuntos Indígenas da AMTB
(Associação Missionária Transcultural Brasileira), já listou 345
diferentes etnias indígenas em nosso país. O verdadeiro desafio
evangelístico entre elas ainda é inconclusivo. Porém, juntamente
com o CONPLEI (Conselho Nacional de Pastores e Líderes Indígenas),
tem-se dimensionado a ausência de uma igreja indígena em pelo menos
180 destes 345 grupos. Ou seja, há 180 etnias que a princípio
poderíamos considerar não alcançadas, e cerca de 100 que, além de
não alcançadas, também não possuem presença missionária. É de suma
importância, porém, que tais dados sejam mais atualizados junto as
organizações missionárias e CONPLEI: quem são, onde estão, como
alcança-los. Um esforço foi feito no CONPLEI 2008 mas há ainda
áreas obscuras e sabemos que é uma longa caminhada.
A questão lingüística
Percebe-se que o universo
indígena, bem como a sociedade não indígena, sofrem freqüentes e
dinâmicas mudanças. Em todos os Estados, há um processo de migração
indígena para os povoados ou cidades, motivado sobretudo pela
possibilidade de melhor assistência à saúde, educação escolar para
os filhos e acesso a elementos externos de subsistência, incluindo
roupas, alimentos, entretenimento etc.
Há no Brasil 185 línguas
indígenas, divididas em dois troncos maiores, o Tupi e o Macro-Jê,
e ainda várias famílias não agrupadas em troncos. Cada tronco
abriga várias famílias e cada família abriga várias línguas.
Destas 185 línguas, três possuem a Bíblia completa (Wai-Wai,
Guarani-Mbyá e Guajajara) e 33 possuem o Novo Testamento completo.
Há projetos de tradução da Bíblia em outras 51 línguas. Portanto,
há ainda 97 línguas sem um projeto de tradução bíblica em
andamento. Muitas destas línguas são faladas pelos mais velhos e a
nova geração tende a usar mais e mais o Português. Outra parte são
línguas onde há presença missionária mas sem um projeto de tradução
ainda em andamento. Uma parte menor são as línguas faladas pelos
grupos mais distantes e isolados, sobre os quais pouco se sabe.
O pesquisador americano
Michael Kraus (Universidade do Alasca, em Fairbanks) afirma que 27%
das línguas sul-americanas não são mais aprendidas pelas crianças.
Isso significa que um número cada vez maior de crianças indígenas
perde o poder de comunicação em uma língua indígena a cada dia. As
razões vão desde a imposição socioeconômica às tribos mais próximas
dos vilarejos e povoados até a falta de uma proposta educacional em
língua indígena, o que os faz migrar para o português. Estima-se
que, na época da conquista pelos portugueses, eram faladas 1.273
línguas. Ou seja, perdemos 85% de nossa diversidade lingüística em
500 anos. Estudiosos afirmam que há uma crise sociolingüística no
estado de Rondônia, onde 65% das línguas estão seriamente em perigo
por não serem mais usadas pelas crianças e por terem pequeno número
de falantes.
Este é sem dúvida um
assunto estratégico quanto a comunicação do evangelho que passa por
mecanismos de oralidade, tradução formal (escrita) das Escrituras,
gravações das Escrituras e assim por diante. Há muitos grupos
indígenas que, na próxima geração, talvez não possam mais ser
evangelizados em sua língua tradicional mas sim em Português.
Informações e Debate
O fórum indígena 2009,
portanto, se propõe a, entre outros temas, expor toda a informação
coletada até o momento com os primeiros pesquisadores do banco de
dados, missões, CONPLEI, pesquisadores independentes e ONGs, bem
como debater sobre as categorizações a serem utilizadas e o
dimensionamento estratégico do cenário indígena brasileiro. Favor
trazerem suas idéias e propostas, bem como dados, para podermos ter
uma boa sessão que desemboque em passos práticos para o nosso
presente momento. Nosso objetivo é também encerrar o fórum com uma
estatística oficial da AMTB e conseqüente divulgação destes dados e
desafios.
Obrigado por participarem
conosco.
Ronaldo Lidório
Organizador
da sessão
ronaldo.lidorio@terra.com.br
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Noticias sobre andamento do Decreto Presidencial.
Em relação ao decreto presidencial que visa
regulamentar a entrada de organizações em áreas indígenas (link:
saiba mais), informamos que recebemos correspondências do gabinete
do Deputado João Campos, presidente da Frente Parlamentar
Evangélica, dando conta de que a Frente recebeu um expediente da
Casa Civil, da presidência da República, o qual informava que o
Projeto de lei, recebido em dezembro, foi devolvido ao Ministério
da Justiça a fim de possibilitar mais debates sobre o tema.
Vemos este primeiro
resultado como intervenção de Deus, após a mobilização que foi
feita em dezembro, tanto pelos irmãos que nos acompanharam à
Brasília quando entregamos os manifestos da AMTB e do CONPLEI em
defesa da permanência das missões em áreas indígenas aos deputados
evangélicos, como pelos que se mobilizaram divulgando e orando em
todo o Brasil.
Nossa expectativa agora é
que o assunto venha a consulta popular, a ser conduzida pelo
Ministério da Justiça. Devemos continuar orando, e atentos a outras
oportunidades de participação com sugestões, comentários etc. Uma
dica é ficarmos atentos ao site do Ministério da Justiça -
www.mj.gov.br.
Qualquer dos irmãos que
queira participar desta forma, pode fazê-lo diretamente a nós, no
Departamento para Assuntos Indígenas da AMTB –
indígena@amtb.org.br, que saberemos a quem encaminhar.
Estamos acompanhando, e
assim que houver agendamento da consulta popular, faremos nova
divulgação.